No trabalho que desenvolvo com pais e crianças, surge com frequência a mesma questão: Como ajudar a criança a ultrapassar os seus medos?

Antes de mais será importante desmistificar que o medo é uma emoção básica e fundamental para a sobrevivência. No fundo, fazem parte do desenvolvimento natural da criança e surgem maioritariamente na primeira infância. Isto não invalida que, por circunstâncias especificas, ou alterações de vida, não possam surgir noutra idade. Os medos invadem o psíquico da criança e trazem à evidência sintomas e queixas que nem sempre são completamente compreendidas. As queixas mais frequentes são: dores de barriga, dores de cabeça, sensibilidade extrema, recusa alimentar ou perturbação do sono.
Como pais, sentimo-nos impotentes perante situações que não controlamos e ver a criança em sofrimento não é uma tarefa nada fácil. Na maioria das vezes assumimos atitudes ou comportamentos que visam a fuga ou camuflagem do medo, agindo a favor da nossa defesa emocional ( é ou não é?). Outras vezes na melhor das intenções de libertar a criança, tendemos a relativizar e ignorar o que a criança diz. Nesta situação é conveniente evitar rir ou desvalorizar as emoções da criança. Independentemente da nossa interpretação da situação, existe um medo que precisa ser cuidado, para ser bem gerido, integrado e ultrapassado. Assumirmos que ele existe e agir com naturalidade é uma excelente abordagem e meio caminho para encontrar uma solução. Afinal é isso que queremos!
A tua criança tem um medo que teima em ficar? Esse medo está a trazer consequências para o seu bem-estar físico ou emocional? Existem alterações ao nível do sono, alimentação ou aprendizagem?
O que já fizeste? Resultou?
Como Coach infantil e mãe posso dizer-te que existem formas eficazes de ajudar a criança. Aproveito esta partilha para te contar uma situação com a minha filha. Não sendo uma criança com muitos medos, no período inicial da 1ª temporada do confinamento, começou a pedir a presença para adormecer e a acordar a meio da noite, com sonhos maus. Durante o dia, ao conversámos sobre o que sentia, contou-me que havia um “monstro” debaixo da cama e que por isso tinha medo de estar ali sozinha. Aceitei como uma criança tudo o que me disse, liguei-me emocionalmente ao que sentia, mostrei compreensão e assumi que era algo normal e que transmiti-lhe também eu passei por isso em criança. Fiz-lhe algumas perguntas poderosas, brinquei com o tema ( ajudei-a a visualizar características do monstro… até teve direito nome). Por fim, partimos em busca da solução. Para isso fiz-lhe mais duas perguntas: Se fosses mágica, o que fazias para mandar o monstro embora? e o que podemos fazer aqui no quarto para que ele não entre mais? Em pouco tempo, tinhamos a solução: borrifar o chão em volta da cama, como liquido mágico ( que só as mães têm a formula H2O) para repelir o monstro e assim sentia o cheiro e nunca mais se poderia aproximar do quarto. Este método foi utilizado apenas nos três primeiros dias… Por incrível que pareça a partir deste dia este medo foi ultrapassado e as noites regressaram à normalidade.
Partilho aqui os primeiros passos para ajudares a tua criança ( estudei, apliquei e funcionou).
1- Ouve o que a criança diz com atenção plena ( com corpo, cérebro e coração)
2 – Valoriza o que diz ( sem julgar, desvalorizar, mostrando empatia)
3 – Observa as suas reações, emoções e comportamentos ( sem querer controlar, manipular ou condicionar)
4 – Mostra-lhe que juntos vão encontrar soluções para ultrapassar esse medo
5 – Contar histórias relacionadas com aquele medo e deixar que a criança participe
6- Faz-lhe perguntas poderosas. Por incrível que pareça as respostas, na maioria das vezes, estão no lado de dentro.
Acreditas que é possível? Precisas de ajuda.